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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Eu francesa? Nem tanto...




Uma moeda tem dois lados, tudo na vida sempre tem dois lados, e uma comemoração francesa não é diferente.

Depois de quatro anos compartilhando o cotidiano Francês, passei a gostar de muitos aspectos da cultura deles. Sei, que depois de partir, meu coração será sempre um coração dividido entre dois mundos, que eu aliás considero bem distintos (mas isso falarei em outro post).

Se de um lado virei fã de queijo francês (que antes não agüentava nem sentir o cheiro), passei a venerar o foie gras, contando os minutos para as comemorações de fim de ano para poder colocar um pedacinho sequer na boca, passei também a admirar a forma franca e honesta do Francês, ou seja, com eles não existe melodrama de novela, eles falam na cara o que pensam, sem rodeios. 
Assim, as reuniões entre eles acabam sendo uma troca de opiniões sinceras, de discussões inteligentes, e você nem precisa ler muito jornal para acompanhar as atualidades por aqui, eles se incumbem de te informar, (lembrando que isso eu falo levando em conta minha experiência pessoal, relacionado aos contatos pessoais que eu tive por aqui, sem generalizar, claro!)

Por outro lado, não consegui me acostumar com a forma de comemoração deles. Que não se pode negar, é bem diferente da alegre festa brasileira.

E nada como os quatro últimos anos novo passados aqui para confirmar o que estou dizendo. Ontem, estava fazendo na minha cabeça uma retrospectiva das minhas viradas de ano na França, e cheguei a conclusão que em todas elas faltava algo, e este algo ficará evidente assim que vocês lerem a descrição que faço abaixo.

A primeira comemoração que passei com eles confesso que já não gostei. Levamos horas para terminar o jantar, tanto, que não agüentava mais ficar sentada, sentia dores em todas as partes do corpo e não entendia o porque daquela imobilidade toda. Resumindo: comemoração sem graça.

No segundo ano, a mesma coisa, mas depois engatamos uma festa, que eu não consegui ficar mais de duas horas, sei lá, as musicas não me animavam, chato demais.
O terceiro Ano novo, Idem: a mesma tortura para mim.

E finalmente o quarto e último ano novo que passo aqui, antes de voltar definitivamente, não conseguiu mudar minha opinião. Mas neste eu tinha fé que fosse diferente, mesmo porque eu mudei muito de um ano pra cá, pois passei a ver muitos pontos positivos da cultura francesa que não via antes, e isso só foi possível quando eu mesma passei a notar que tinha virado um pouco “francesa”. (também posso explicar isso em outro post).

Mesmo assim, minha historia e minhas raízes permanecem mais fortes.

Como já disse a passagem do ano foi sem graça como as demais: primeiro, horas e horas para um aperitivo, e mais uma eternidade para o jantar. Pra vocês terem uma idéia, assim que passamos à mesa já fomos avisados que o jantar era composto de sete pratos diferentes, entre, entrada, prato principal, queijos e sobremesas. Só de ouvir já me deu preguiça, mas como disse, conservava ainda uma ínfima esperança.

Mas não! A cada entrada e prato tinha um intervalo de 40 minutos em que os convidados ficavam conversando na mesa, sentados, sem mexer um músculo sequer, apenas a boca e as mãos estavam soltas, uma para falar indefinidamente e a outra para levar a taça de vinho até a boca, afinal um bom vinho não pode faltar nesta comemoração!

Não posso contar pra vocês todo jantar, porque a Aninha aqui morreu no meio! Consegui comer as TRÊS entradas previstas, e o primeiro prato principal e no meio do intervalo entre eles, me dei conta que estava quase dormindo dentro do prato.
Então, levantei como uma “lady”, olhei aquele sofá acolhedor, com aquela almofada fofinha e deitei. Dormi uns 15 minutos e depois o casal, gentilmente, ofereceu a cama deles pra eu dormir. Sei que pode ter ficado chato, mas não conseguia mais, e eu acho que eles entenderam.

Dormi umas duas horas e meia e quando levantei percebi que eles tinham apenas terminado o jantar. Ufaaaa dessa eu me safei, pensei. Mas não, ai vieram as músicas sem graça, com ares de melancolia, nada festivo. Lembrei logo que no lugar poderiam colocar uma bossa, que também pode ser melancólico, mas feliz né? Poxa, até um pouco da melancolia brasileira que podia existir nas músicas me fazia falta nessa hora...

É por essas e outras, que ainda fico com o jeito de comemorar brasileiro, com a contagem regressiva que anuncia o ano novo, com a imensa alegria que sentimos em estar mais um ano entre amigos, entre abraços apertados, empolgados, felizes... E o que vem a seguir? Uma boa festa! que não deixa um sentado.

Os franceses que me perdoem, vocês podem ser bons em muitas coisas, mas festa boa mesmo continua sendo a brasileira! :-)

Feliz 2011 a todos! 

11 comentários:

  1. amei esse post! que sarro vc dormindo na "festa" de fim de ano! huaha achei engraçado tb uma coisa... nesse tempo notei uma mudança em vc, não de personalidade, mas de vocabulário, de brincadeiras... acho que essa mudança foi muito bem explicada aqui e tenho certeza de que sua volta será festiva, mas vc tb sentirá muita saudade daí e demorará um pouquinho a se habituar com alguns costumes daqui q possivelmente vc já tenha perdido... estou muito ansiosa pela sua volta! te amoo!

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  2. Olá...que bom que você comentou lá no Borboletas!permitiu-me fazer o caminho de volta e conhecer (eu nunca tinha vindo aqui? que estranho!) teu espaço. Eu gosto muito da Rita e do Estrada Anil e é uma alegria conhecer as letras de alguém que também caminha por lá. Bjs calorosos...

    PS. Tenho grande admiração por vários traços da cultura francesa, mas festas assim, rsrsr, nenhuma paciência aqui.

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  3. Luuuu: pois é Lu, mudei um pouco sim...as vezes sinto falta da Ana de antes, mas aqui me preparei mais para enfrentar a vida, que como vc sabe nao é nada facil. Mas bom, a essência continua a mesma minha amiga e minha amizade por vc tb! você sabe né??

    Ola Borboleta, mil desculpas pela demora, mas como estou de mudança para o Brasil, fica mais dificil entrar na net agora. E mesmo uma alegria conhecer gte boa na net!! eu adoro a Rita e foi através dela que entrei no seu blog, e vou até coloca-lo na listinha de blogs preferidos ali do lado ;-)
    Quanto a festa, afffffffffffffff (olha o tamanho da minha paciência?) kkk
    Bjos

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  4. hehehehe descrevesse perfeitamente a festa francesa. eu ja disse la no blog uma vez que eu achava que serviam sonifero na bebida desse povo. passei o melhor reveillon aqui na frança somente porque foi na companhia de duas brasileiras. mas seja como for, nao tem como nao criar raizes e aprender a respeitar o que eh diferente da gente. gostei de ler aqui a maneira com a qual tu apresentasse a vida das festas francesas: sem preconceito, tomando cuidado pra citar os altos e baixos... muito bom! :)

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  5. Oi Ana.Essa etiqueta francesa.Vontade de voltar ao passado e matar Catarina de Médicis...hehehehehehehehe, bem pelo menos se não fosse ela não comeríamos de garfo e faca,mas precisava toda essa ''frescura''.Contou a eles que aqui no Ano Novo brasileiro são tantas pessoas que muitas tem de comer no sofá?Huahsuhaushaushsushsu.Eu adorei essa postagem.Um abraço!

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  6. Oi Luci,obrigada!!! desculpe a demora em responder, mas estou sem net aqui no Brasil... apesar de nao gostar muito do jeito de comemorar deles, aprendi também a respeitar e ver um lado positivo nisso tudo, pq tudo sempre tem dois lados, não da só pra criticar né? (mesmo rezando pra festa acabar logo hehehe)

    Bruno: Pois é Bruno, não precisava, mas como eu disse faz parte da cultura deles, e por mais que seja chato pra mim, tem tb o seu lado bom...Quanto a comer no sofá, isso é inconcebível na cultura deles,eles gostam mesmo é de comer sentados, na mesa, com todos reunidos e com uma boa conversa!hehe
    Obrigada por passar aqui!
    bjos

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  7. Passando pra deixar um beijo agradecido pelo comentário lá no blog...

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  8. Aninha querida....
    menina como seus posts sao interessantes...
    ohh no seu fim d ano teve musica, poxa os meus antes nem tiveram, q tedioooo, kkkkk
    Mas neste ultimo fizemos com brasileiros e tudo muda!! Musicaa, mtaaa e bem animada!!
    Nada d sentarmos à mesa, esperando o px prato, kkkkk
    Bom, um bj querida, espero q estejas bem por ai... e nao esquece d mim viu????
    saudadesss mil

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  9. Ô Mara Querida!!!!
    Claro que nao me esqueço de você, nao tem como! So sinto nao ter podido ir te visitar, mas quem sabe um dia amiga!
    Fico feliz de ter te conhecido na França, sua amizade me ajudou muito la, mesmo que tenha sido mais virtual!
    Se quiser vir conhecer o sul, esteja a vontade!
    Bjaooo

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  10. Oi Ana! Concordo com vc: os franceses não tem a manha de fazer festa! nem de reveillon, nem de aniversario, e nem balada! E é por isso que eu não passo mais reveillon aqui, nem meu aniversario, nem o aniversario da Sofia. O carnaval não tem jeito mas não da para ter tudo também né?
    bjus e adorei o blog!

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  11. Concordo com vc! Estou em Nice para aprender francês e uma das coisas mais difíceis de "engolir" é o reveillon. Nós, brasileiros, acostumados a vestir nossa roupinha branca e pular 7 ondinhas nos deparamos com um ano novo pouco festivo e em meio ao frio. Difícil... Enfim, gostei muito do seu blog e espero que possa fazer uma visita ao meu, indicado no link acima. Abraços!

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